sábado, 9 de maio de 2009

Marcos 1:35-39

35 Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava.
36 Procuravam-no diligentemente Simão e os que com ele estavam.
37 Tendo -o encontrado, lhe disseram: Todos te buscam.
38 Jesus, porém, lhes disse: Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim.
39 Então, foi por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios.

Jesus não permitia que a necessidade do povo que O buscava lhe subtraísse os momentos íntimos com o Pai. Seria de se perguntar: se Jesus e o Pai são Um, porque a necessidade de haver momentos de comunhão entre eles ? Já não andam juntos, com o Espírito Santo ainda agregado à Eles, tornando-os uma amálgama divina sobre a terra? Então porque buscar a comunhão entre Ele e o Pai? E ainda por cima em locais onde o ambiente em que a quietude e o tempo disponível fossem fatores facilitadores desse contato?

É preciso lembramos que Jesus era HOMEM. Despojou-se de sua deidade e assumiu sua humanidade com todas as implicações que tal decisão envolvia. Entre elas, a necessidade de gerir seu tempo. O Filho que estava com o Pai na criação e formação de todas as coisas. Ele, um Ser que o tempo não lhe afeta, para quem passado, presente e futuro confundem-se e compõem a história, se submete às limitações humanas de tempo e espaço.

Isso é um sinal evidente que Jesus não veio subverter a ordem das coisas criadas. Ele se adequou à finitude que seu corpo humano impunha em um mundo caído, separando tempo para as disciplinas espirituais e as realizando em ambientes onde as condições para isso lhe fossem favoráveis.

Não aquiesceu aos pedidos de seus discípulos, liderados por Simão, ao procurar alarmá-lo afirmando que todos o buscavam. Antes manteve o foco naquilo que era essencial: pregar as boas-novas do Reino. Para Jesus a mensagem sempre se sobrepôs aos milagres. Sabe Jesus que a maior transformação era aquela operada no interior do ser pelo recebimento da pregação do evangelho por um coração desejoso e aberto.

Quantos exemplos de pessoas que receberam curas miraculosas, mas em seu interior continuaram prevalecendo a ira, a dúvida, o rancor, a ingratidão? Até mesmo o sentimento de superioridade espiritual por ter sido “tocada” por Deus, desprezando outros? Não falo dos exemplos que vemos diariamente nas igrejas, mas aquelas onde Jesus curou e não houve resposta de mudança de vida, como nos dez leprosos que foram curados, mas somente um voltou agradecido.

Jesus não veio para ser visto como um curandeiro ou um milagreiro, mas para ser visto como Aquele que entregaria-se para fazer prevalecer a verdade de sua mensagem que pregava. Ele era a mensagem e o cumprimento dela. Há tempos atrás um antigo livro chamado “Mais que um carpinteiro” fez muito sucesso no meio evangélico discorrendo sobre Jesus, sua pessoa e sua missão. No entanto entendo que Jesus é “mais que o mensageiro”. Ele é a mensagem encarnada!

Como mensagem encarnada, não poderia assentir em transformar-se naquilo que o povo e o diabo queriam: em um curandeiro que trata das exterioridades do ser com a cura que é passageira, pois em vindo a morte essas curas miraculosas perdem seu poder de convencimento, pois o instrumento que as evidencia (o corpo) não mais carrega o sopro de vida. Importava à Jesus que os valores da alma prevalecessem acima dos sinais externos, ainda que os sinais o acompanhassem, como citado nesse trecho da expulsão de demônios por toda a Galiléia.

Por isso, trata de imediatamente de “enquadrar” o pedido de Pedro (e os desejos dos demais), mantendo o foco de sua missão, não deixando de justificar sua opção por prosseguir no propósito de sua vinda: “...a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim.”

Consciência de suas limitações humanas e permanência no foco, entendo que são os maiores lições de Jesus ensinou nesse trecho.